domingo, 19 de setembro de 2010

UMA PEÇA DUAS POLÊMICAS

Parte 1 - Materiais Politicamente Incorretos



                           
Sempre estamos nos questionando com relação aos materiais como a tartaruga, o marfim, o coral. Usar ou não usar. As vezes recebemos encomendas e temos que atender ao cliente, mas também percebemos que na maioria das vezes aquele material é antigo, guardado por um antepassado que deixou para alguém etc. Eu mesma estava um dia andando na praia em Morro de São Paulo e encontrei a carcaça de uma tartaruga. O casco estava soltando aquelas lâminas e eu resolvi pegar. Guardo até hoje e ainda não tive coragem de fazer nada. Ganhamos também de uma amiga um galho enorme de Coral Negro. Neste caso o Julio fez uma linha de colares linda acompanhando o formato do coral. Colocamos na loja, mas neste caso não nos sentimos culpados, porque, o que nos deixava realmente chocados, éra a quantidade de galhos que eram utilizados para fabricação de lembrancinhas que seriam descartadas na primeira oportunidade, e não teriam a chance de se tornar uma galho tão bonito quanto estes que utilizamos, e foram moldados por mãos de artista em peças exclusivas que serão eternizadas. Dia destes um amigo encomendou um anel com marfim, um pedaço que ele tinha também a anos porque nunca quiz fazer nada. As vezes me lembro de minhas lascas de tartaruga, que poderia fazer coisas legais mas ao mesmo tempo penso no politicamente correto. Mas se formos pensar em futuro, acredito que funcionaríamos como um museu, uma jóia é eterna não é mesmo, então, porque não preservar materiais tão nobres em peças feitas para durar. A idéia é não comprar mais, somente utilizar o que já está ai, não é mesmo.


5 comentários:

  1. A idéia do Chico Mendes é essa. Extrativismo sustentável. É diferente utilizar o couro de um animal morto, daquele que foi morto para ser utilizado o material. Acho melhor usar do que deixar apodrecer, por ex. O problema são os ignorantes, que, ao verem algo belo não vão esperar pra achar o material, mas matarão sem piedade para possuí-lo.

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  2. Oi Carmem td bem???? Adorei o questionamento.. e concordo com vc... tbem tenho esses materiais comigo e me sinto culpado em usar....quem sabe um dia eu tenha coragem....
    Gde beijo
    Renato Bove

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  3. É pessoal, realmente é difícil o questionamento, é como o efeito Tostines, se usar para não estragar vai atiçar a vontade de alguém que não tem e vai tentar conseguir. Difícil, aí entra a tal da consciência. Mas como são tão poucas as peças feitas vai da consciência de cada um e da relação que ele têm com o seu cliente. Mas ainda prefiro fazer uma bela peça a deixar o material apodrecer ou se perder, claro deixando sempre uma mensagem, recicle não destrua.
    Carmem

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  4. Tenho uma admiração incondicional pelo trabalho do meu amigo Julio, mas tenho de discordar plenamente da opinião sobre "reciclagem" de materiais em risco de extinção.
    A postura dos organismos, ongs etc,,, de defesa é radical. Há muitos anos (20 ou 25) saiu uma matéria de várias páginas com fotos terríveis de elefantes mortos com as presas arrancadas com machado. Eram dezenas. Aquele registro causou um escancalo mundial e gerou a proibição total, em vários paises do uso de marfim.
    Há cerca de um ano atrás houve uma queima de várias toneladas de marfim apreendido (lembram?).
    O raciocínio básico é o seguinte: se você permite o uso, põe preço e estimula o mercado. Se é terminantemente e criminalmente proibido, não tem mercado.
    Há pouco tempo fui comprar madeira para fazer uma estante e me surpreendi com a escassez de tipos de madeira. Hoje só é permitida a comercialização de madeira certificada e, por isso, caríssima. Por exemplo Pinus de reflorestamento, ou cedro onde a empresa derruba uma árvore de cem anos em troca de plantar e cuidar de mil. Mas precisa ser certificado por uma empresa credenciada. Alguem precisa garantir que ela realmente plantou, está cuidando de forma correta. as árvores estão em tal estágio etc...Conversando com um amigo biólogo que iniciou uma nova profissão e hoje trabalha com "certificação", trabalha numa empresa que cria protocolos de certificação. Por exemplo o caso acima, cria protocolos e fiscaliza se as condições estão sendo cumpridas. Até carne, hoje, tem protocolo de verificação para que não causem danos de desmatamento etc...
    Há alguns anos dei um curso no SEBRAE Cuiabá e os alunos estavam ansiosos por desenhar por conta de um concurso promovido pelo SEBRAE com peças de couro de jacaré. Os mecanismos de defesa dessa espécie, no pantanal, teriam sido tão eficientes que foi necessário frear a superpopulação e foi autorizado o abate de tantos jacarés e, fomentado pelo próprio SEBRAE, um curtume produziu tantas peles certificadas.Confesso que não gostei da idéia.
    O assunto é complexo. Você tem uma população carente de recursos que durante muitos anos viveu da venda de peles. Aí proibe-se e quando precisa matar vai queimar? Mas veja que as peles são de uma beleza tamanha, que usá-las, mesmo que certificadas, vai estimular o consumo.
    Quanto mais feliz você for na execução de uma peça com marfim, mais vai estimular o consumo e maior vai ser o preço.
    Há cinquenta anos atrás o elefante, o coral, a tartaruga não estavam em extinsão porque o consumo não era suficiente para causar um desastre.
    Mesmo as sementes que ainda podemos utilizar, já carecem de cuidados nesse sentido, pois o uso indiscriminado em alguma regiões já começa a afetar o ciclo natural.
    Nesse assunto, não dá para brincar mais. Eu não chamaria esse uso de materiais já utilizados de reciclagem pois esse termo refere-se em princípio à reutilização de materiais cuja obtenção e/ou descarte causa danos à natureza. A reciclagem nesse caso é para parar de causar danos, como plástico, alumínio etc...
    Bem essa é a minha opinião. Na verdade não é minha, é do movimento ecológico mundial. Os que me conhecem sabem que fiquei conhecido por meu trabalho em coral negro. Ainda tenho uma boa quantidade, mas confesso que não consigo utilizá-los.
    Abraço e parabéns pelo blog. É muito bom poder debater com gente da mesma espécie.
    Carlos Salem

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  5. Olá Salem, seja muito bem vindo, já chegou arrazando, esta é a idéia do Blog, debater, esclarecer, compartilhar. Os vários pontos de vista podem nos levar a contrução de uma idéia mais clara. A casa é sua e de todos que quizerem manter um diálogo claro e esclarecido sobre os temas abordados.

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